Nos últimos dias, o prefeito de Ourinhos, Guilherme Gonçalves, fez questão de anunciar em suas redes sociais que não destinou “um centavo” para rádios, jornais ou sites de notícias da cidade. A declaração, feita em tom de orgulho, revela mais do que transparência: expõe o descaso com a imprensa local e um preocupante desconhecimento sobre o papel da comunicação em uma democracia.
É preciso esclarecer: nenhum veículo de Ourinhos depende da Prefeitura para sobreviver. Rádios, jornais e sites se mantêm com trabalho diário, criatividade e, principalmente, com o apoio da população e dos anunciantes. Mas há uma diferença que o prefeito insiste em ignorar — rádios vendem tempo, jornais e sites vendem espaço publicitário. Não somos, nem nunca seremos, obrigados a divulgar gratuitamente o que a gestão municipal considera importante.
A contradição é gritante. Enquanto se gaba de não investir na imprensa, a própria assessoria do prefeito envia diariamente uma enxurrada de releases, esperando que veículos publiquem, sem custo, as ações das secretarias. Para a Prefeitura, comunicação parece ser uma via de mão única: usa-se a imprensa quando convém, mas sem reconhecer seu valor.
Outro ponto não pode ser ignorado. Conhecido como “prefeito tiktoker”, Guilherme apostou nas redes sociais pessoais para mostrar os feitos do seu governo. Mas o cenário mudou. O STJ já decidiu que usar perfis pessoais para divulgar obras e programas públicos pode configurar promoção pessoal ilícita, sujeita a improbidade administrativa. O que antes parecia vitrine política pode se transformar em um sério problema jurídico.
No fim das contas, quem perde com essa postura não é a imprensa, é o cidadão. Informação institucional precisa circular de forma clara, transparente e responsável — e isso passa pelo fortalecimento da mídia local, que há décadas cumpre seu papel de informar a comunidade.
Não se trata de pedir privilégios, mas de reconhecer que comunicação exige investimento, profissionalismo e respeito. A imprensa não é extensão da assessoria da Prefeitura. É independente, crítica quando necessário e comprometida com a verdade.
Prefeito, governar é dialogar. E diálogo começa com respeito. O senhor pode até se orgulhar de não gastar com a imprensa, mas lembre-se: quem tenta ignorar ou silenciar a mídia, cedo ou tarde, acaba silenciado pelos fatos — e pela lei.